Soy brasileña pero vivo en Buenos Aires desde hace un poco más que 4 años. Esto significa –ni más ni menos- que logré sobrevivir a dos mundiales en tierras rioplatenses. Para ser sincera, en 2010 esa preocupación ni existía. Recién llegaba y me sentía tan extranjera como mis amigos franceses, colombianos, austriacos o alemanes y, además, no tenía ningún amigo argentino.
Me acuerdo que fui a ver algún partido a Plaza San Martin y otro a una bar lleno de brasileños. Sin embargo, estaba sola cuando Brasil jugó contra Holanda y fue eliminado. A penas terminó el partido escuché la celebración de mis vecinos. “¡Qué hijos de puta. Realmente nos odian!” pensé. Pero no me enojé. Primero porque soy de esas personas que sólo mira fútbol durante los mundiales; segundo porque en ese momento nada de Argentina me pertenencia. Todo me era ajeno.
En 2014 fue diferente. Tenía novio y amigos locales. Mi primera preocupación era la hostilidad. No de las otras personas hacia mí, por el contrario, de la mía hacia los demás. ¿Podría lidiar con el cinismo agobiante del “Brasil decime que se siente”?
(Dibujo del artista carioca Jorge Vitor)
Sabía que mantener la elegancia demandaría mucho control. Llegó el mundial, mi novio y yo sucumbimos a la presión de comprar una tv gigante y nuestra jornada empezó mal: una fiesta de apertura ridícula y un japonés que inventaba penales. Tuve una epifanía: sentí que estaba jodida. Fue lo suficientemente fuerte para saber que algo malo ocurriría, por eso miré todos los partidos en mi casa.
Quería escapar de una posible humillación que sentía próxima. Durante los partidos de Argentina –que miraba con los amigos y amigas de mi novio- intentaba ser lo más neutral posible. Me limitaba a fingir una pequeña sonrisa cuando ellos disfrutaban del fetiche de tener una brasileña cerca a quien cantarle el hit del momento.
Sin embargo los juegos fueron pasando. Argentina se agrandaba. Brasil se achicaba. Yo no aguantaba más. Pero nunca imaginé lo que venía. El 7 a 1 cambió todo. Mientras los alemanes nos invitaban gentilmente a pasear por el infierno, yo iba cayendo a cuenta de que mi vida en Buenos Aires ya no podría ser igual.
Para todo el planeta el mundial de Brasil terminó un 13 de julio, sin embargo, para los brasileños que vivimos en Argentina, no terminará jamás. Las pruebas empíricas ya lo demuestran. Cuando uno dice que es brasileño sólo puede esperar cuatro reacciones de un argentino: 1- “¿Ah sí? Me encanta Brasil” (Ok…qué me importa); 2 – “Yo hablo portugués” (No, la verdad que no hablás); 3- “Pelé debutó con un pibe” (Ay Maradona…). 4 – “Brasil decime que se siete” (Porque no te vas a la CDTM).
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Sou brasileira e vivo em Buenos Aires ha um pouco mais que 4 anos. Isso significa- nem mais nem menos – que consegui sobreviver a duas copas do mundo na Argentina. Para ser sincera, em 2010, essa preocupação nem existia. Recém chegava e me sentia tão estrangeira como meus amigos franceses, colombianos, austríacos ou alemãs, e, além do mais, não tinha nenhum amigo argentino.
Me lembro que fui assistir alguns jogos na Praça San Martin e outros em bares cheios de brasileiros. Mas estava sozinha quando Brasil jogou contra a Holanda e foi eliminado. O jogo mal terminou e eu já podia escutar a comemoração dos meus vizinhos. Pensei, “Que filhos da puta. Eles realmente nos odeiam!”. Não fiquei grilada. Primeiro porque sou uma dessas pessoas que só assiste futebol em tempos de copa; segundo porque nesse momento nada da Argentina me pertencia. Tudo parecia muito distante.
Em 2014 foi diferente. Eu tinha namorado e amigos locais. Minha primeira preocupação era a hostilidade. Não das outras pessoas comigo, ao contrário, da minha contra os demais. Seria possível lidar com o cinismo da agoniante canção “Brasil decime que se siente”?
Eu sabia que manter a elegância demandaria muito controle. Chegou a copa do mundo, meu namorado e eu, sucumbimos a pressão de comprar uma tv gigante e nossa jornada começou mal: uma festa de abertura ridícula e um japonês que inventava pênaltis. Tive uma epifania: estava fodida. Fui suficientemente forte para saber que não tínhamos chance, por isso decidi assistir todos os jogos na minha casa.
Queria escapar de uma possível humilhação que sentia que se aproximava. Durante os jogos da Argentina – que eu assistia com os amigos e amigas do meu namorado – tentava ser a mais neutra possível. Me limitava a fingir um pequeno sorriso quando eles disfrutavam do fetiche de ter uma brasileira perto para escutar o hit do momento (“Brasil decime…).
No entanto os jogos foram passando. A Argentina ia crescendo e o Brasil diminuindo. Já não aguentava mais. Mas nunca pude imaginar o que estava por vir. O 7 a 1 mudou tudo. Enquanto os alemães nos convidavam gentilmente a passear pelo inferno, eu ia me dando conta de que minha vida em Buenos Aires já não poderia ser mais a mesma.
Para todo mundo a copa terminou no dia 13 de julho, no entanto, para os brasileiros que vivem na Argentina, ela não terminará jamais. As provas empíricas podem demonstrar isso. Quando uma pessoa diz que é brasileira em Buenos Aires, só pode esperar 4 reações: 1- “Ah sim? Eu adoro o Brasil” (Aham…realmente não me interessa); 2- “Eu falo português” (Não, na verdade você não fala não); 3- “Pelé transou com um moleque” (Aiaiai Maradona…); 4- “Brasil decime que se siente” (Porque você não vai tomar bem no fundo do seu C).